domingo, maio 04, 2014

As vozes que se foram



Há coisas que deixam de falar com nós.
Coisas, pessoas, situações, idades, tempos, elas simplesmente calam ou as calamos.
E apenas com o tempo percebemos que elas nunca mais foram ouvidas.                                       Outros canais as silenciaram, outras vidas parecem ser, outros eus parecem ter sido aqueles os que falavam com elas, com eles.
Não é preciso o tempo, na sua manifestação linear para que esses silêncios ocorram.
Apenas deixamos de falar com eles, com elas.


No dia menos pensado se acorda para um silêncio indizível que de fato não se fez sentir, mas que por algum gatilho ou sistema artífice apontam para essa ausência, nossa. Nossa pois é um movimento de calar parido por nós.

Algo como uma leitura que fica pela metade, dum livro que por alguma razão desliza e cai entre a estante e a parede, e então somente lembraremos dele ao esvaziar algum espaço. As vozes que não ouvimos mais são isso, e vem uma certa sensação de perda quando constatamos que elas calaram e não o percebemos, que não foi necessidade nossa emitir uma fala para com elas, ou que o som das mesmas não significam mais nada para nós.

Assim se por ventura ocorre uma despedida, uma partida, ou um fim, esse risco de completa ausência de emoção é tornado matéria. 


Luciana Onofre

Nenhum comentário:

Postar um comentário

pensados e proferidos